Veio Santa Alface a este mundo pr' acalmar nossos desassossegados estômagos. Seja feita a sua vontade. Amén

Monday, March 26, 2007

Desilusão, ignorância e incompetência - adubo Salazarista


Ontem Salazar foi democraticamente eleito o português num programa que não interessa(*) nem ao menino Jesus, mas acabou por se tornar interessante por espelhar tanto a deficiência do programa como a de muitos portugueses. Sim, eu sei os fachos mobilizam-se bastante e este não é um espelho fidedigno da vontade dos portugueses, mas este resultado é sem dúvida uma bela desculpa para eu falar do défice democrático vigente na sociedade portuguesa. Este défice tem níveis de gravidade diferentes, desde o nível do indivíduo que pura e simplesmente não é democrata até ao indivíduo que pensa que por ter votado nas eleições e defender os seus interesses é um verdadeiro democrata. De certa forma existe uma grande desilusão por parte dos cidadãos por terem escolha, ou seja tudo está está mal e é preciso que venha um messias salvar-nos, como o povo português é um bocado incompetente em matéria de eleições a solução passa por esse messias se impôr sobre a ignorante vontade dos portugueses. Ou seja os próprios portugueses desejam que a sua vontade seja menosprezada porque no fundo, no fundo sabem que são incompetentes. Esta coisa da democracia dá muito trabalho, é preciso pensar e é preciso pensar para além do umbigo, porque como a nossa democracia prova, quando todos investem nos seus umbigos uns ficam muito mais satisfeitos que outros. Se por habilidade política e informativa no nosso país se consegue pôr os trabalhadores do privado, que são explorados pelos seus patrões, a defender que os trabalhadores do público, que em nada estão relacionados com essa injustiça, sejam diminuidos nos seus direitos (fazendo a inversão semântica de direito para regalia)...então é a democracia que está mal, venha de lá o nosso messias. Se por um lado temos uma classe política que sabe perfeitamente o porquê de gostar de Salazar, sabemos também que ela se alimenta da ignorância que ela própria faz o possível por perpetuar. A educação dos portugueses é deficitária não porque sejamos mentecaptos, mas porque admiramos quem o é e porque os reproduzimos até à exaustão. Quando na televisão um indivíduo (Belmiro de Azevedo) de visões curtas cujo sucesso pessoal se faz às custas da alienação de direitos dos demais é reproduzido como sendo um modelo...o resto é resultado natural. Desistir da democracia é premiar aqueles que em democracia tudo fazem para miná-la, ao mostrarmos descontentamento elegendo um ditador não estamos a punir a classe política em geral, estamos a premiar uma classe política em particular.

(*) Não que não interesse pelo conteúdo, mas porque a limitação de escolhas e conceito do programa em si é fraco, basta pensar na salgalhada de individualidades que lutam por um título que à partida apenas branqueará grande individualidades para perceber que o programa foi mal pensado (aliás mal copiado).