Veio Santa Alface a este mundo pr' acalmar nossos desassossegados estômagos. Seja feita a sua vontade. Amén

Wednesday, August 23, 2006

HABs

"Harmful Algal Bloom”, ou em português, Florescimento de algas nocivas (FANs). Este fenómeno é, usualmente, designado por maré vermelha, pelo facto de a água apresentar uma cor avermelhada. Este acontecimento é devido a pequenos organismos, microscópicos, algas unicelulares marinhas, nomeadamente dinoflagelados (organismos com dois flagelos um transversal, no cíngulo, e outro flagelo longitudinal, no sulco). Deixando os termos técnicos de lado, este fenómeno nada tem a haver com marés, mas sim com crescimento muito rápido por banda deste organismos, talvez devido a descargas excessivas de esgotos e de lixo, pois estes geram uma enorme quantidade de matéria orgânica, o que contribui para o crescimento e rápido desenvolvimento de diversos organismos. Nem sempre estes organismos são nocivos, mas no caso dos HABs são. Não fosse o termo “Harmful” (Nocivo). Estes organismos são a base das cadeias tróficas, tendo como consequência a afectação dos organismos que se encontram no topo da cadeia alimentar.Como aconteceu à algum tempo, penso que na Costa Vicentina, os microorganismos nocivos estavam a afectar, através da cadeia trófica, os bivalves locais, pelo que se recomendou que os “come on's” não andassem por lá a comer o raio dos bichos de concha com duas valvas.



Pois é pessoal vamos lá a deixar de fazer cocó na água do mar porque isto pode afectar os nossos dinoflagelados, que até são uns gajos porreiros e bem giros digo-vos eu. Algumas espécies são bioluminescentes – bem interessante, afinal, nem só as estrelas são capazes de produzir a sua própria luz.


Nota: cíngulo e sulco são as depressões onde se inserem os flagelos.


Esquema do ciclo de vida de uma espécie de HAB, neste caso Alexandrium.


Qualquer dúvida é favor perguntar!


Referências:

The Harmful Algae page
Wikipédia

Multifasciatus

Thursday, August 17, 2006

A outra face da Liberdade

Quem é afinal a Sra. Liberdade? Podiam seguir-se linhas e linhas de conceitos político-sociais que toda a gente conhece. Tomemos, nesse campo, a liberdade como a ausência de um regime totalitário. Tomemos um regime demoliberal. Não existem perseguições políticas, sociais, religiosas, étnicas, etc.. Tomemos Portugal como exemplo.

Essas perseguições não existem mesmo? Pergunte-se caro leitor, não se trata apenas de retórica. É evidente que estas perseguições ainda persistem, mas por agora simplifiquemos um pouco as coisas.

Olhe à sua volta e observe: a senhora da padaria teve as mesmas oportunidades de ir à escola que o douto leitor? Terá crescido numa família literata como o senhor? Pode continuar a observar outros que o rodeiem. Agora diga-me se isso resulta da nossa fantabulástica meritocracia, do sucesso glorioso de sua família, do esforço dos seus pais e por aí adiante. Pode dizê-lo, não tenha medo. Se a sua família é de facto tão bem sucedida, olhe um pouco para trás e veja. Veja como é que a sua família chegou ao sucesso (imagino que explorando alguém; imagino passando por cima de alguém, mas diga-me, por favor, se é mais um equívoco).

Ao que eu queria chegar: “igualdade de oportunidades”. Será que a temos? A associação de igualdade a liberdade é incontornável: apenas quando nos deparamos com as mesmas oportunidades dos outros, podemos escolher, optar por aquilo que queremos. E essa escolha é, em parte, a Liberdade. Agora, enquanto persiste a discriminação é criado todo um condicionalismo a essas opções, “Ai o amarelo é uma cor tão feia; já o azul… coisa mai linda”.

Creio que se chega a um certo ponto da nossa existência em que, mais tarde ou mais cedo, tomamos consciência de que podemos optar. Pelo amarelo, se assim o entendermos. Mas mais que isso é optar por aquilo que queremos ser, pelas referências que um dia queremos ter em nós. Já não absorvemos toda e qualquer influência, como acontece numa fase primária da nossa vida – ou seja, quando estamos restringidos aos grupos primários como a Família, os colegas de escola, o grupo de amigos, etc. –, porque alcançamos uma qualquer maturidade que nos permite seleccionar essas influências dos ditos grupos de referência, bem como assumir a nossa responsabilidade face a estas opções. O que quero dizer é que, mesmo sendo alvos de toda e qualquer influência, porque o somos sempre, temos a capacidade de escolher as que queremos ver em nós, as que consideramos positivas. Esse será talvez um estado de liberdade, porque é-nos dada a oportunidade de escolher.

No entanto, sempre que o controlo social (mesmo aquele considerado indispensável para manter a coesão social) é exercido, essa liberdade é-nos retirada. Sempre que no televisor nos mostram uma forma de viver, nos repetem vezes sem conta a forma “acertada” de construir a nossa vida; sempre que nas histórias da carochinha o objectivo é a menina arranjar um menino e daí ter uma casinha e uma data de pirralhinhos; sempre que nas lojas se vê a mesma roupa… Essa Liberdade não nos é retirada?

Mais perniciosa será a influência dos ditos opinion makers: como se já não bastasse a desinformação de que somos vítimas todos os dias, ainda vêm uns quantos senhores dizer-nos como pensar sobre determinado assunto, qual a forma politicamente correcta de o fazer, qual a forma que mais lhes interessa para manter o seu tão bem conseguido status. Quem está familiarizado com conceitos sociológicos tem a perfeita noção (ou poderá optar por tê-la) de que tudo serve para manter o status quo, ou seja, tudo o que vai sendo construído socialmente serve para manter as coisas tal como elas estão. Mesmo que o empregado de escritório se sinta injustiçado com os €2,50 que lhe pagam à hora, vivendo num meio onde persiste a ideia do “tens de começar por baixo e depois, se fores realmente bom, já podes ganhar os milhões que o teu patrão ganha”, ele conformar-se-à com este estado que considera iniciático.

Não se trata de ser um bom ou mau meio de mobilidade social (embora não o considere perfeito, sei que é mais fácil e, por isso, mais justo do que há uns tempos atrás; a partir daí, só os valores de cada um ditam a sua capacidade, ou não, de passar por cima de tudo e todos). Mas sim, dizia eu, de uma forma de manter as coisas tal como elas são.

Desta forma, chegamos a outro aspecto da Liberdade: quando não concordamos com o estado das coisas, o que podemos fazer para perfurar o status quo? Rezar a todos os santinhos para nos sair o euromilhões? É uma opção. Mas e se forem constituídos movimentos sociais? Talvez lhe pareça, caro leitor, que fazer uma manif aqui e ali não sirva de nada (talvez retire desse preconceito um qualquer prazer simplista de minorar todo o activismo social). Talvez lhe pareça que é uma total perda de tempo e que assim as coisas não vão mudar. Talvez a sua escolha passe por se juntar a um qualquer partido, daqueles mais consolidados para um dia conseguir um estatuto que lhe permita fazer alguma coisa para mudar/manter o actual estado social. É a sua opção e, mesmo que fosse outra, o Caracol respeita-o.

Peço-lhe apenas que respeite as opções dos outros. Peço-lhe que não subestime o trabalho das muitas associações e dos muitos movimentos que, com o seu árduo trabalho, vão amenizando a gravidade da situação e, em conjunto com o poder político que a Democracia lhes dá – isto é, o voto e a elegibilidade –, vão tentando mudar a nossa sociedade.

Resumindo, aquilo que mais confusão me faz, a nível pessoal, é o conformismo em que a nossa sociedade caiu. Digo caiu porque me parece haver ainda muito a fazer. Ser livre é poder ser feliz. E quando grande parte da população anda a tomar anti-depressivos, não me parece que essa felicidade social tenha sido alcançada. Mais grave ainda, não me parece que as pessoas estejam cientes de que podem fazer mais pela sua liberdade.

A outra face da Liberdade, a lírica, já a minha outra parte tratou e, se não me engano, continuará a fazê-lo.

Nairobi

Wednesday, August 16, 2006

Segredos...


Par a par!

Nuvens nos sapatos

Leve, leve, leve que é de graça. Leviano se sente. Esquecido e perdido. As suas botas afinal levam umas nuvens estranhas. Oh! desculpe não são botas, são sapatos. Será que voam?
Há quem prefira ter os pés assentes na terra, mas eu não gosto de os ter sempre assentes em terra, voar dá aquela sensação de Liberdade, pelo menos no sentido figurado. Não que alguma vez tenha voado, mas já me senti como se tivesse. Já voaste? Gostava que todos aqueles que merecem voassem um "poucochinho", afinal de contas, todos merecem aquilo que conseguem. Usei o termo "conseguem" para não ferir susceptibilidades, pois poderia dizer: "cada um tem aquilo que merece". Poderia ser mal interpretado, então optei pelo termo mais suave, penso eu.
Curiosa sensação que nos faz sentir flutuar por vezes. Peço perdão se não flutuou nunca na vida.
Espero que chegue a experimentar, far-lhe-à muito bem. Aqueles que não o conseguirem, experimentem a sensação da amizade, muito nobre, também, quando bem interpretada.


"Satisfeito sou, por, afinal, conhecer os limites daquilo que sou."

A_R, in Mau-Maria
Mas afinal a meta ainda está longe, conto com vocês para continuar.
Multifasciatus

Que as sombras se iluminem!

Nem sempre aquilo que parece o é,
nem sempre as Primaveras são Primaveras.
O que é o começar? Estado de renovar.
Afinal diga-me lá senhor leitor,
O que é a Primavera? Começo? Do quê?
Muito bonito e romântico sim senhor,
mas a Primavera não é mais do que
uma repetição periódica de uma
determinada distância ao Sol.
Mais segundo menos segundo, o mesmo efeito.
Por acaso a criação deu-se no Verão,
no tempo de aridez para os outros,
outros que antecipam estações.

Tristes vidas, sim senhor, existências peculiares.
Quando vês uma flor no chão pisa-a! Porquê?
É medo de a ver brotar e te dominar?
Medo infundado, as flores não mordem,
as flores fazem parte dos ecossistemas,
até dos mais peculiares, senhor leitor.
Deixe de ter medo do escuro, e veja
veja brilhar a aurora, o orvalho
nas nossas flores, folhas, e caule.
Sim, somos uma planta bem constituída,
de raízes assentes naquilo que os outros temem.
Se a ideia for desenraizar a nossa planta,
ficareis a saber que o caracol não o deixará.

Este caracol tem muitos defeitos,
mas aprende com as suas virtudes.
Nosso lema é: O sonho comanda a Vida.
Não é ao acaso que nos colocamos lado a lado com Pessoa.

Pensais o quê? Isto não é uma bandalheira,
isto não é um web log.
Isto é muito mais do que vossa mente possa alcançar,
se alcançar és um dos dignos.

Dignos de qualquer crítica ou oposição.
Adoramos receber opiniões construtivas, não destrutivas.
Afinal de contas não criticam tanto os nossos governantes por isso?!
Pensei que fossem todos uns idealistas. Ou será que me enganei?

Puristas não são mais que negativistas,
velhos inconformados com movimentos de renovação.
O que nasceu agora, não nasceu agora,
nasceu há 91 anos, porque será que as pessoas não lêem as coisas?

Define-se um movimento de renovação como refluxo?
É suspeito de fascismo uma coisa destas.
Refluxos são problemas estomacais.

A arrogância não nasce na luz do dia,
nem se confunde com determinação, e muito menos com sonhos.
(Já ignorância pode-se confundir com estupidez).
Multifasciatus

Idiota


"Sente-se. Está sentado? Encoste-se tranquilamente na cadeira. Deve sentir-se bem instalado e descontraído. Pode fumar. É importante que me escute com muita atenção. Ouve-me bem? Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo. Você é um idiota. Está realmente a escutar-me? Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção? Então repito: você é um idiota. Um idiota.
I como Isabel; D como Dinis; outro I como Irene; O como Orlando; T como Teodoro; A como Ana. Idiota. Por favor não me interrompa. Não deve interromper-me.
Você é um idiota. Não diga nada. Não venha com evasivas. Você é um idiota. Ponto final. Aliás não sou o único a dizê-lo. A senhora sua mãe já o diz há muito tempo. Você é um idiota. Pergunte pois aos seus parentes. Se você não é um idiota... claro, a você não lho dirão, porque você se tornaria vingativo como todos os idiotas. Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que você é um idiota. É típico que você o negue. Isso mesmo: é típico que o Idiota negue que o é.
Oh, como se torna difícil convencer um idiota de que é um Idiota.
É francamente fatigante. Como vê, preciso de dizer mais uma vez que você é um Idiota e no entanto não é desinteressante para você saber o que você é e no entanto é uma desvantagem para você não saber o que toda a gente sabe. Ah sim, acha você que tem exactamente as mesmas ideias do seu parceiro. Mas também ele é um idiota. Faça favor, não se console a dizer que há outros Idiotas: Você é um Idiota. De resto isso não é grave. É assim que você consegue chegar aos 80 anos. Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem. E então na política! Não há dinheiro que o pague.
Na qualidade de Idiota você não precisa de se preocupar com mais nada. E você é Idiota (Formidável, não acha?)."


Bertolt Brecht

Há dizeres que nos ficam guardados. Este é só um deles.

Nairobi

Tuesday, August 15, 2006

Paralelismos

Ontem o céu era azul,
os prados verdes.
As flores abriam,
na inocência da Primavera.

Na perfeição dos tempos passados,
encontro a podridão dos tempos de hoje.
No fundo de lá,
encontro o topo de cá.

Hoje o céu é cinzento,
os prados amarelos secos.
As flores deram lugar à aridez,
fruto das tempestades recentes.

Tristes são aqueles que se julgam felizes,
por pensarem que o são, logo aqui.
Satisfeito sou,
por, afinal, conhecer os limites daquilo que sou.

A_R, in Mau-Maria


O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Fernando Pessoa, in Mensagem (3ª parte - O Encoberto)
Membro de peso este, hein?! Não sabia ele na altura que pertenceria a tão mal afamado Movimento - o M.O.C.A.
Multifasciatus

Sunday, August 06, 2006

...amarelo!

Da luz incandescente do sol,
do raiar do dia,
do amanhecer...

Da amizade sugerida.
Da alegria, vida,
figurada pelo sol,
pela luz.


Multifasciatus

Saturday, August 05, 2006

O caracol...

Lento, lentinho
Devagar, muito devagarinho.
Assim se espera,
que seja.

Senão,
lembrem-se só da história da lebre e da tartaruga.
Moral da história?
Devagar se vai ao longe.

Da concha espiral,
na qual vivo,
vejo um turbilhão de uma vida
que por aí há-de vir.

Por onde quer que passe,
hei-de deixar uma marca.
Senão a vires,
senti-la-às.


Multifasciatus

Friday, August 04, 2006

Liberdade

Usualmente, os filósofos usam uma definição acerca deste tema um pouco semelhante a isto: “A tua Liberdade, acaba na Liberdade do próximo, como tal para ser livre é necessário respeitar a Liberdade do outro”. Sendo assim, a Liberdade são um conjunto de condicionalismos impostos pela ética, Respeito, e, também pelos valores morais ou não de cada um de nós. O meu segundo eu de certo que se encarregará de vos encher com conceitos sócio-políticos.
Após a realização de um apanhado de frases na praia, consigo ler frases deste género:

“Liberdade é o meu namorado de 180 kg sair-me de cima”;
“Liberdade é poder peidar em público sem ser descriminado”;
“Liberdade é ouvir as ondas do mar, sem o sol a escaldar e a namorada a reclamar”;
“Liberdade é o meu namorado não me espremer borbulhas”;
“Liberdade não rima com infelicidade, mas sim com felicidade”

Como vêem há um pouco de tudo, mas quero destacar algumas das afirmações, tais como a segunda e a última. Bom, quanto à segunda é uma grande verdade, verdade seja dita que não deve haver maior sensação de liberdade do que aquela. A última, deixei para o fim, porque enfim é aquela que para mim melhor define Liberdade. Pois bem, a minha visão quanto ao assunto é muito peculiar, vou fazer um paralelo talvez muito exagerado, mas para mim só se é feliz, sendo livre. O que quero dizer é, não se é feliz não sendo livre, ou seja, há pessoas livres que são felizes, e outras que apesar de serem livres não são felizes. E, depois, claro, há pessoas que não são livres, consequentemente não são felizes. Exemplos de indivíduos que não sendo livres, não são felizes:
- Indivíduos presos em cadeias,
- Indivíduos que roubam. Podem sentir-se felizes, mas a felicidade por vezes é uma ilusão. De que adianta ser feliz se os outros não o são, também?

Pronto, acho que já estão a ver o género de indivíduos não livres que não são felizes. Enfim, a Felicidade a que me refiro é um estado inatingível é certo, mas alguns chegam lá próximo e isso fá-los ser felizes, e não só sentirem-se.
Há, ainda os indivíduos que apesar de serem Livres, não são felizes (just like me). As minhas razões são diversas, mas vou tentar sintetizar a raiz do problema: Falta de respeito para com o meu “eu”. Enquanto o mundo me espezinha eu esboço um sorriso, mas lá no fundo algo podre se desfaz, é assim que se sente um dos Livres Infelizes, aspirante a Livre Feliz.
Só mais um conceito que considero importante definir quando se fala de Liberdade. Imagine-se numa ilha deserta. Nada, nem ninguém com quem interagir. Agora pense, como se fosse um filósofo. Onde acabaria a sua Liberdade? Não há outro. Já numa sociedade a definição de Liberdade que quero passar chama-se Libertinagem (fazer aquilo que se apetece, sem ter em conta mais ninguém a não ser o próprio). A mesma situação pode conduzir a dois conceitos diferentes, dependendo das circunstâncias.

Multifasciatus